Acabei de ser surpreendido com o convite da diretoria da nossa preciosa ABEU para abrir o que se pretende seja uma coluna sobre a Covid-19 e seus correlatos na visão do editor universitário, com a emenda: “você está na instituição referência neste momento”. Bem, texto iniciado; se será finalizado ou, mais grave, publicado... “a Deus pertence!”.
Estar na “instituição” multiplica responsabilidades e desafios neste momento. Mas, a modesto ver, a “referência” mais importante agora é a própria Vida. Vimos assistindo nos últimos tempos ataques os mais diversos àquilo que nos dá sustento, ao pão e à própria alma: o fazer científico e sua difusão. Não fosse o bastante, uma pandemia se instala entre nós e invade o mundo – ainda que não necessariamente nesta ordem. E, paradoxo dos paradoxos, vem de forma democrática, ocupando os territórios de desenvolvidos e de subdesenvolvidos, de abastados, remediados e amontoados, semizerando, inclusive, nossas possibilidades de convívio e demonstrações de afeto. Estamos sós, conosco mesmo, tendo que olhar olhos assombrados no espelho.
O que vejo na minha instituição são os estacionamentos esvaziados, os prédios sem cor (pois sem tantas vozes mais ou menos exaltadas ou fartos passos mais ou menos apressados), uns ou outros avançando ao sabor do estupefato (os essenciais, certamente). O campo de futebol vem cedendo vez a um emergente – e urgente – hospital e algumas notícias de gente da linha de frente já acometida. De onde virão os recursos? Os financeiros hão se aparecer, oxalá; os humanos sempre estiveram lá, nessa raça com raça e “orgulho de ser Fiocruz”.
O debate está além de cloroquinas e derivados, álcoois em gel, sabões, luvas ou máscaras. O debate está nas noites viradas, nas sucessivas e até emendadas reuniões virtuais, na exposição de uns quantos ao risco, na certeza de que solidariedade salvará tantas vidas ou mais que ventiladores mecânicos. E o debate é pra ontem, que minutos nessas horas contam muito.
Nosso futuro – e aí eu ouso falar do Brasil e do mundo – voltou a depender da ciência, da comunicação de qualidade, da informação precisa, dos capítulos e artigos das mais diversas áreas do saber, da divulgação científica... e da Política. Sim, da Política! Daquela que aposta sem vacilar em proteger e salvar a Vida de seus concidadãos, daquela que sabe que insciência e indiferença matarão mais que qualquer vírus oportunista.
O ABEU Reflete desta semana traz mais um olhar sobre os momentos de incerteza em que vivemos diante da pandemia de coronavírus. Retornar a este assunto é inevitável, afinal, a atual crise ocupa as preocupações de qualquer um em todos os setores da economia. Por isso, trouxemos agora um texto de Jézio Hernani Bomfim Gutierre, diretor-presidente da Fundação Editora Unesp e diretor de difusão editorial da ABEU, que fala justamente de como os desafios são ainda maiores para um mercado que já vive constantemente em dificuldades, como é o editorial. Confira:
Bons tempos aqueles em que podíamos reclamar da crise brasileira, da crise estrutural da indústria editorial, da crise da universidade, da crise do livro como bem cultural. Isso sem contar as lágrimas derramadas, justificáveis e sempre presentes, sobre os males endêmicos: o analfabetismo funcional no Brasil e os pífios índices de leitura no país. Bons tempos... É nesse meio que surge a epidemia do coronavírus e que se instala o aparente Armagedon editorial e a nostalgia pelo caos anterior.
Jared Shurin, em texto recentemente publicado em The Bookseller [“Black swans and pink flamingos”], um dos periódicos mais tradicionais do setor, usa o conceito de “cisne negro”, que atribui ao ensaísta Nassin Taleb, para designar fatos inesperados, “desconhecidos não sabidos” [“unknown unknowns“], mas fundamentais para o curso dos eventos. Para Taleb, “cisnes negros” são tão imprevisíveis quanto frequentes na história e têm efeito amplo e definidor onde ocorrem. De acordo com Shurin, a epidemia atual teria justamente esse papel sobre a dinâmica futura do mundo editorial.
Difícil não concordar com Shurin sobre o impacto extensivo e duradouro da pandemia, atestado ubiquamente por alguns elementos que nos dão imagem segura (ao menos nisso...) da destruição do atual mercado do livro. De um lado, as grandes exposições livreiras nacionais e internacionais (e.g., Feira de Bolonha, Feira de Guadalajara) estão canceladas ou correm risco crescente disso. De outro, todos os canais regulares de venda física, em todo o mundo, foram profundamente atingidos, impondo eliminação muitas vezes definitiva de livreiros e distribuidores – e, por extensão, editoras. Isso nos faz ver que mesmo após (e se) vencermos a tragédia sanitária, não se deve esperar o ressurgimento do mesmo mundo em que as editoras sobreviventes costumavam atuar.
O “cisne negro” que se abateu sobre nós subtrai um dos elementos essenciais de que normalmente necessitaríamos para dar conta de toda a constelação de problemas tradicionais do setor: tempo. Quaisquer das crises citadas acima demandam processos normalmente complexos, envolvendo adaptação de legislação ou de metodologia empresarial. Todos os resultados de médio e longo prazos demandam agora respostas emergenciais que imediatamente preservem as editoras e canais de disseminação livreira. Tudo é urgente.
O mundo tem dado exemplos cada vez mais numerosos de reação rápida e com efeitos provavelmente permanentes. Em todos os lugares, a brutal intensificação de uso dos meios de comunicação digitais preservou parcela significativa da operação administrativa das editoras, bem como abriu possibilidades inexploradas na prática de negociação de direitos e divulgação de lançamentos. Emblemático é o caso da Feira de Bolonha que, a rigor, só foi fisicamente cancelada, adquirindo a forma de “feira digital”, caminho seguido por outras iniciativas semelhantes. E, no âmbito mais específico da comercialização de varejo, como seria de se esperar, o livro digital e a presença das livrarias on-line adquiriram impulso novo e certamente duradouro.
Editores e livreiros permanecem buscando incessantemente os meios que lhes permitam continuar desempenhando seu papel. No entanto, a superação desse desafio sem precedentes demanda esforço adicional e medidas emergenciais que ultrapassam a alçada das editoras. É nesse sentido que, no Brasil, a sociedade civil e o governo devem finalmente expor o nível de seu apreço pelo livro. Para além da retórica simpática, o presumido valor cultural do livro para a sociedade e, no caso da edição universitária, o valor real do livro para a academia devem ser coroados com medidas objetivas que assegurem a continuidade da edição livreira e a diversidade da produção e distribuição de conteúdos. Modelos de financiamento e subvenção setoriais devem ser imediatamente instaurados e bases orçamentárias estáveis devem ser garantidas para isso.
Editoras universitárias evidenciam há muito tempo seu relevo para a dinâmica do mundo acadêmico, relevo distraidamente admitido pelos administradores das universidades brasileiras. Agora chegamos a um ponto crítico em que os órgãos de fomento e as universidades, mesmo nesse momento de crise do ensino superior, devem ir além do discurso e, com ações, dar lastro ao reconhecimento (e custeio) devido à atividade editorial. É, por assim dizer, a hora em que “a onça bebe água” na relação entre editoras e a academia. Quem sabe, o cisne negro seja afinal responsável por desentocar aquela onça e nos leve a definições muito esperadas nessa relação.
A pandemia da covid-19 continua a provocar inquietações, conjecturas e permanece ocupando todos os espaços do debate público. Por isso, é inevitável que, mais uma vez, este tema permeie o artigo desta semana do ABEU Reflete. Carlos Alberto Gianotti, editor executivo da Editora Unisinos, no entanto, pondera sobre outras consequências do coronavírus, comentando sobre sensações de desconfiança trazidas pela atual conjuntura. Mas seu texto não fala da desconfiança no sentido de perder confiança, de se deixar abater, mas sim na acepção de gerar dúvidas e questionamentos. Confira abaixo:
Foi há muito, não consigo precisar quando aconteceu, mas um dia, como que se abateu sobre mim um abissal sentimento de desconfiança, um desconfiar na acepção de duvidar, e não de perder a confiança. A partir de então, desde aquele momento, passei a viver meus dias a questionar onde radica a verdade, ou seja, nas contingências da vida, em que ponto estará o que mais se aproxima do veraz. Não a verdade dogmática ou a sectária, mas o esboço de uma possível verdade contrastante com as contrafações. Esse exercício de busca é o do discernimento em meio às circunstâncias, às conjunções.
Certas circunstâncias ou determinados eventos não se consegue expressar com palavras, sobre eles pouco ou nada de categórico há a dizer, melhor a circunspecção; 11 de setembro – NY, Tsunami no Japão – 2011, Mariana, Brumadinho foram o que foram. Palavras abundaram a respeito desses eventos, mas apenas tergiversações ou especulações midiáticas.
Agora, vemo-nos às voltas com essa estupefaciente pandemia. Na verdade, se bem pensado, nada de consistente e efetivamente insuspeito há a comentar a respeito dela: é o que é, e se sabe que está a causar dezenas de milhares de vítimas fatais. Falar a respeito é como, no elevador com o vizinho do andar de cima, trocar palavras banais sobre o tempo: palavras vazias para preencher não sei quê, entremeadas por aquele manjado sorriso nervoso.
As ciências da saúde, diante do surto viral, operam como conseguem para atenuar sofrimentos pessoais dos atacados pelo vírus. De outro lado, veem-se mídias a se ocupar quase que exclusivamente do assunto, repetindo, ad nauseam, torrentes de informações de notória inutilidade. Particularmente as TVs apresentam enjoativamente dados numéricos sobre a crise, que apenas causam preocupações desnecessárias, e veiculam o discurso de diferentes profissionais da saúde que ficam a se repetir uns aos outros, quando não a se contradizerem, concluindo unanimemente por enfatizar com ar de rigor científico: “Lavem bem as mãos com sabão ou apliquem nelas álcool em gel!” Cheguei a ouvir de um deles a esquisita prescrição para autoproteção psíquica no isolamento caseiro, que o isolado não fique de pijama o tempo todo, isto é, o indivíduo deve, já ao levantar-se pela manhã, vestir roupas de sair, mas permaneça em casa; de outro escutei, boquiaberto, o preceito de manter unhas curtas, porque, se longas, sob elas o vírus poderá se homiziar. Enfim, manifestações ociosas que têm a serventia de escancarar que nada de efetivo há a dizer, embora os turbilhões de palavras. Espelha-se, assim, com clareza de sol de meio-dia, que num mundo em que se desaprendeu a ouvir, todos têm alguma genialidade a apregoar.
Foi desse mundo do indivíduo que desaprendeu a ouvir e viciou-se em narrar o banal – vide as infanto-juvenis redes sociais – que emergiu a desconfiança generalizada, não na acepção notada ao início, a do discernimento diante das circunstâncias, mas a desconfiança no sentido de não confiar em ninguém, em nada, induzida essencialmente pela ânsia incontrolável de poder no âmbito sociolaboral de cada um: para ascender, vale qualquer coisa e, por isso, devo me manter com um pé sempre atrás em relação ao outro, e também de prontidão para a oportuna rasteira em outrem visando à minha vantagem ou dos meus. Enfim, vivemos a época da desconfiança incrustrada na sociedade – seu éthos.
Pois, com a pandemia, estendeu-se ainda mais essa desconfiança entre nós; mas ela tem uma origem própria. Trata-se desconfiança diante das informações e dos esclarecimentos obsequiados pelas mídias, origem do desnorteio geral sobre o como agir, a que e a quem dar crédito diante de tanto que se nos oferecem “conhecer”.
Seria bom, quem sabe, buscar consolação no Fernando Pessoa, que vaticinou nestes versos: “O que for, / quando for, / é que será o que é.”
Em mais uma semana da nossa nova coluna, ABEU Reflete, a pandemia mundial do coronavírus provoca mais conjecturas e ponderações. No texto de hoje, Maria Luiza Santos, pesquisadora e professora titular de Sociologia da Universidade Estadual de Santa Cruz e Líder do Observatório das Migrações do estado da Bahia, parte da análise da trama de um filme para refletir sobre como lidamos com o outro e como vamos encarar as migrações após este período de isolamento social. Autora da Editus - Editora da UESC, Maria Luiza já publicou livros como O quibe no tabuleiro da baiana (2006), Fluxos Contemporâneos (2014) e Tarfi na estrada: ficção e realidade na trajetória de refugiados (2018).
Ao atualizar a lista de livros e filmes propostos para a quarentena, que, diga-se de passagem, todos os dias tem sido aumentada, me deparei com o título Nunca Visto. Sim, esse é o título do filme: NUNCA VISTO. Trata-se de uma comédia da diretora argentina radicada na Espanha Marina Seresesy, produzido por Pablo Bossi e lançado em 2019, o qual descobri posteriormente tratar-se de um remake. Classificaria como bom. Não muito bom, nem excelente, porém me chamou atenção pela temática.
Apesar de a sinopse o descrever como “comédia emaranhada que, para o bem ou para o mal, usa piadas simples pra fazer as pessoas rirem com resultados mistos”; ou “uma cidade isolada e em apuros recebe um grupo de estrangeiros bem diferentes, então, prepare-se para o choque cultural”, é bem mais que isso. Um olhar crítico, estabelecendo relações com as discussões sobre os estudos migratórios, consegue perceber a gama de estereótipos, preconceitos, alteridade, medo, xenofobia, etnocentrismo, assimilação e oportunismo por que passam os diálogos e imagens nos 93 minutos de filme.
Evocando a semiótica e a importância das representações, reflito sobre a inferência de Abdelmalek Sayad, em seu livro Imigração ou os paradoxos da alteridade (1998), quando chama atenção para as duas faces de uma mesma moeda ao tratar da condição migrante – do olhar do outro sobre nós e nosso sobre o outro –, tão comum no cotidiano e tão debatido por aqueles que trazem nas suas pautas o tema da identidade, do respeito ao diferente e do acolhimento à diversidade. Bonitas palavras, porém de uma distância hercúlea em traduzir-se em ações mesmo no século XXI. Uma rápida leitura dos jornais e uma atenção específica nas fotos e reportagens sobre a situação de migrantes refugiados ao redor do mundo tentando ultrapassar fronteiras, conviver com a falta de dignidade humana e lutar pela sobrevivência comprovam tal afirmação.
No filme Nunca Visto enxerguei, de forma alegórica, um microcosmo dessa realidade contemporânea. Um vilarejo denominado de Fuentejuela de Arriba, com apenas 16 habitantes, que resiste a ser integrado ao vilarejo maior, caso o número de habitantes decresça. A resistência é alicerçada na pureza e tradição dos seus moradores que não ousam se misturar. Trazem como palavra de ordem: “Abaixo à integração”. A solução seria aumentar seu número de habitantes, porém, a procriação não é uma possibilidade, pois já passaram da idade de fazê-lo. A oportunidade surge então com a chegada de quatro migrantes africanos. O tensionamento é instalado, uma vez que tal possibilidade se choca com os pilares mais sagrados do pequeno grupo que resiste a interagir com migrantes e, ainda mais “grave”, migrantes negros.
O que se percebe a partir do fato em questão é o surgimento dos vários perfis e dilemas que os que acompanham os debates migratórios estão familiarizados: aqueles que tomam pra si o convencimento frente aos demais; aqueles que têm medo da tomada do seu espaço; aqueles que têm medo do fenótipo do outro que é estranho a mim; aqueles que querem adestrar com seus costumes, e aí são retratadas a gastronomia, festas, danças típicas, religiosidade e indumentárias; aqueles que não escutam; aqueles que absorvem a cultura do outro; aqueles que querem cuidar dos outros como objetos exóticos; aqueles que querem aprender; aqueles que criminalizam; aqueles que adotam. Talvez a maior dificuldade apresentada nessas variáveis e também na realidade contemporânea é a de dar voz a quem não é dada a voz. É de deixar o protagonismo social e dar também espaço ao outro.
O filme traz um final feliz com a realidade da integração, da mobilidade humana respeitada e da alteração no quadro de vulnerabilidade social no pequeno vilarejo e seus parcos habitantes. Decididamente, esse microcosmo reflete pouco os atores sociais fora da tela no que tange aos movimentos migratórios mundiais. Se essa observação pode ser constatada no mundo pró-globalização/mundialização, o que dizer no momento onde reina a pandemia da covid-19, onde o mote é o isolamento social e a cada dia é mais recorrente o discurso da transferência de culpas?
Para grande parte do globo a condição de isolamento vai passar. Como no filme, a integração reinará. Mas existe uma gama de pessoas que já estava isolada antes da pandemia e que se hoje sofre, como nós pela angústia da doença, vive com o agravante da invisibilidade da sua condição, que só se torna uma referência quando associada à causadora de uma crise e à invasão de territórios, como se sair do local em que viviam tivesse sido uma opção. “[...] não é pelo surgimento da pandemia que as hierarquizações e iniquidades já existentes deixam de atuar, por vezes são até reforçadas”, nos lembra o editorial do Museu da Imigração de São Paulo de 27 de março. Outra grande batalha a ser vencida em nível mundial, que, penso, terá duração mais extensa que a pandemia, pois não trata do interesse de várias agendas políticas de um grande número de nações.
Acabei de ser surpreendido com o convite da diretoria da nossa preciosa ABEU para abrir o que se pretende seja uma coluna sobre a Covid-19 e seus correlatos na visão do editor universitário, com a emenda: “você está na instituição referência neste momento”. Bem, texto iniciado; se será finalizado ou, mais grave, publicado... “a Deus pertence!”.
Estar na “instituição” multiplica responsabilidades e desafios neste momento. Mas, a modesto ver, a “referência” mais importante agora é a própria Vida. Vimos assistindo nos últimos tempos ataques os mais diversos àquilo que nos dá sustento, ao pão e à própria alma: o fazer científico e sua difusão. Não fosse o bastante, uma pandemia se instala entre nós e invade o mundo – ainda que não necessariamente nesta ordem. E, paradoxo dos paradoxos, vem de forma democrática, ocupando os territórios de desenvolvidos e de subdesenvolvidos, de abastados, remediados e amontoados, semizerando, inclusive, nossas possibilidades de convívio e demonstrações de afeto. Estamos sós, conosco mesmo, tendo que olhar olhos assombrados no espelho.
O que vejo na minha instituição são os estacionamentos esvaziados, os prédios sem cor (pois sem tantas vozes mais ou menos exaltadas ou fartos passos mais ou menos apressados), uns ou outros avançando ao sabor do estupefato (os essenciais, certamente). O campo de futebol vem cedendo vez a um emergente – e urgente – hospital e algumas notícias de gente da linha de frente já acometida. De onde virão os recursos? Os financeiros hão se aparecer, oxalá; os humanos sempre estiveram lá, nessa raça com raça e “orgulho de ser Fiocruz”.
O debate está além de cloroquinas e derivados, álcoois em gel, sabões, luvas ou máscaras. O debate está nas noites viradas, nas sucessivas e até emendadas reuniões virtuais, na exposição de uns quantos ao risco, na certeza de que solidariedade salvará tantas vidas ou mais que ventiladores mecânicos. E o debate é pra ontem, que minutos nessas horas contam muito.
Nosso futuro – e aí eu ouso falar do Brasil e do mundo – voltou a depender da ciência, da comunicação de qualidade, da informação precisa, dos capítulos e artigos das mais diversas áreas do saber, da divulgação científica... e da Política. Sim, da Política! Daquela que aposta sem vacilar em proteger e salvar a Vida de seus concidadãos, daquela que sabe que insciência e indiferença matarão mais que qualquer vírus oportunista.
Acabei de ser surpreendido com o convite da diretoria da nossa preciosa ABEU para abrir o que se pretende seja uma coluna sobre a Covid-19 e seus correlatos na visão do editor universitário, com a emenda: “você está na instituição referência neste momento”. Bem, texto iniciado; se será finalizado ou, mais grave, publicado... “a Deus pertence!”.
Estar na “instituição” multiplica responsabilidades e desafios neste momento. Mas, a modesto ver, a “referência” mais importante agora é a própria Vida. Vimos assistindo nos últimos tempos ataques os mais diversos àquilo que nos dá sustento, ao pão e à própria alma: o fazer científico e sua difusão. Não fosse o bastante, uma pandemia se instala entre nós e invade o mundo – ainda que não necessariamente nesta ordem. E, paradoxo dos paradoxos, vem de forma democrática, ocupando os territórios de desenvolvidos e de subdesenvolvidos, de abastados, remediados e amontoados, semizerando, inclusive, nossas possibilidades de convívio e demonstrações de afeto. Estamos sós, conosco mesmo, tendo que olhar olhos assombrados no espelho.
O que vejo na minha instituição são os estacionamentos esvaziados, os prédios sem cor (pois sem tantas vozes mais ou menos exaltadas ou fartos passos mais ou menos apressados), uns ou outros avançando ao sabor do estupefato (os essenciais, certamente). O campo de futebol vem cedendo vez a um emergente – e urgente – hospital e algumas notícias de gente da linha de frente já acometida. De onde virão os recursos? Os financeiros hão se aparecer, oxalá; os humanos sempre estiveram lá, nessa raça com raça e “orgulho de ser Fiocruz”.
O debate está além de cloroquinas e derivados, álcoois em gel, sabões, luvas ou máscaras. O debate está nas noites viradas, nas sucessivas e até emendadas reuniões virtuais, na exposição de uns quantos ao risco, na certeza de que solidariedade salvará tantas vidas ou mais que ventiladores mecânicos. E o debate é pra ontem, que minutos nessas horas contam muito.
Nosso futuro – e aí eu ouso falar do Brasil e do mundo – voltou a depender da ciência, da comunicação de qualidade, da informação precisa, dos capítulos e artigos das mais diversas áreas do saber, da divulgação científica... e da Política. Sim, da Política! Daquela que aposta sem vacilar em proteger e salvar a Vida de seus concidadãos, daquela que sabe que insciência e indiferença matarão mais que qualquer vírus oportunista.
Acabei de ser surpreendido com o convite da diretoria da nossa preciosa ABEU para abrir o que se pretende seja uma coluna sobre a Covid-19 e seus correlatos na visão do editor universitário, com a emenda: “você está na instituição referência neste momento”. Bem, texto iniciado; se será finalizado ou, mais grave, publicado... “a Deus pertence!”.
Estar na “instituição” multiplica responsabilidades e desafios neste momento. Mas, a modesto ver, a “referência” mais importante agora é a própria Vida. Vimos assistindo nos últimos tempos ataques os mais diversos àquilo que nos dá sustento, ao pão e à própria alma: o fazer científico e sua difusão. Não fosse o bastante, uma pandemia se instala entre nós e invade o mundo – ainda que não necessariamente nesta ordem. E, paradoxo dos paradoxos, vem de forma democrática, ocupando os territórios de desenvolvidos e de subdesenvolvidos, de abastados, remediados e amontoados, semizerando, inclusive, nossas possibilidades de convívio e demonstrações de afeto. Estamos sós, conosco mesmo, tendo que olhar olhos assombrados no espelho.
O que vejo na minha instituição são os estacionamentos esvaziados, os prédios sem cor (pois sem tantas vozes mais ou menos exaltadas ou fartos passos mais ou menos apressados), uns ou outros avançando ao sabor do estupefato (os essenciais, certamente). O campo de futebol vem cedendo vez a um emergente – e urgente – hospital e algumas notícias de gente da linha de frente já acometida. De onde virão os recursos? Os financeiros hão se aparecer, oxalá; os humanos sempre estiveram lá, nessa raça com raça e “orgulho de ser Fiocruz”.
O debate está além de cloroquinas e derivados, álcoois em gel, sabões, luvas ou máscaras. O debate está nas noites viradas, nas sucessivas e até emendadas reuniões virtuais, na exposição de uns quantos ao risco, na certeza de que solidariedade salvará tantas vidas ou mais que ventiladores mecânicos. E o debate é pra ontem, que minutos nessas horas contam muito.
Nosso futuro – e aí eu ouso falar do Brasil e do mundo – voltou a depender da ciência, da comunicação de qualidade, da informação precisa, dos capítulos e artigos das mais diversas áreas do saber, da divulgação científica... e da Política. Sim, da Política! Daquela que aposta sem vacilar em proteger e salvar a Vida de seus concidadãos, daquela que sabe que insciência e indiferença matarão mais que qualquer vírus oportunista.
Acabei de ser surpreendido com o convite da diretoria da nossa preciosa ABEU para abrir o que se pretende seja uma coluna sobre a Covid-19 e seus correlatos na visão do editor universitário, com a emenda: “você está na instituição referência neste momento”. Bem, texto iniciado; se será finalizado ou, mais grave, publicado... “a Deus pertence!”.
Estar na “instituição” multiplica responsabilidades e desafios neste momento. Mas, a modesto ver, a “referência” mais importante agora é a própria Vida. Vimos assistindo nos últimos tempos ataques os mais diversos àquilo que nos dá sustento, ao pão e à própria alma: o fazer científico e sua difusão. Não fosse o bastante, uma pandemia se instala entre nós e invade o mundo – ainda que não necessariamente nesta ordem. E, paradoxo dos paradoxos, vem de forma democrática, ocupando os territórios de desenvolvidos e de subdesenvolvidos, de abastados, remediados e amontoados, semizerando, inclusive, nossas possibilidades de convívio e demonstrações de afeto. Estamos sós, conosco mesmo, tendo que olhar olhos assombrados no espelho.
O que vejo na minha instituição são os estacionamentos esvaziados, os prédios sem cor (pois sem tantas vozes mais ou menos exaltadas ou fartos passos mais ou menos apressados), uns ou outros avançando ao sabor do estupefato (os essenciais, certamente). O campo de futebol vem cedendo vez a um emergente – e urgente – hospital e algumas notícias de gente da linha de frente já acometida. De onde virão os recursos? Os financeiros hão se aparecer, oxalá; os humanos sempre estiveram lá, nessa raça com raça e “orgulho de ser Fiocruz”.
O debate está além de cloroquinas e derivados, álcoois em gel, sabões, luvas ou máscaras. O debate está nas noites viradas, nas sucessivas e até emendadas reuniões virtuais, na exposição de uns quantos ao risco, na certeza de que solidariedade salvará tantas vidas ou mais que ventiladores mecânicos. E o debate é pra ontem, que minutos nessas horas contam muito.
Nosso futuro – e aí eu ouso falar do Brasil e do mundo – voltou a depender da ciência, da comunicação de qualidade, da informação precisa, dos capítulos e artigos das mais diversas áreas do saber, da divulgação científica... e da Política. Sim, da Política! Daquela que aposta sem vacilar em proteger e salvar a Vida de seus concidadãos, daquela que sabe que insciência e indiferença matarão mais que qualquer vírus oportunista.